Confie na minha transparência. Sou eternamente explÃcita. Se não gosto, não faço charme. Doa a quem doer, minha sinceridade e bem-estar são colocados em primeiro lugar, não nego.
Habituar-se à felicidade seria um perigo. FicarÃamos mais egoÃstas, porque as pessoas felizes o são, menos sensÃveis à dor humana, não sentirÃamos a necessidade de procurar ajudar os que preci...
Às vezes eu me coloco numa situação de ver um pouco antes de ver mesmo. Eu pressinto o instante que se segue e cadencialmente minha respiração acompanha o ritmo do tempo. Eu que sinto antes de se...
O sofrimento por um ser aprofunda o coração dentro do coração.
Sofremos por ter tão pouca fome, embora a nossa pequena fome já dê para sentirmos uma profunda falta do prazer que terÃamos se fôssemos de fome maior.
Refugio-me na loucura porque não me resta o chamado meio-termo do estado de coisas comum. Quero ver coisas novas e isso eu só conseguirei se não tiver mais medo da loucura.
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que s...
Sou um monte intransponÃvel no meu próprio caminho.
Eu sempre quis atingir um estado de paz e de não-luta. Eu pensava que era o estado ideal. Mas acontece que que sou eu sem a minha luta? Não, não sei ter paz.
Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la. De qualquer jeito suponho que você só aceitaria esse conselho. E acostume-se: o que você sentiu - sobre o que mais gosta no mundo talvez tenha sido...
O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.
Eu não me aprovo porque mal consigo viver comigo mesmo. Faço quase o impossÃvel para ter isenção. Isenção de mim.
Eu sou o meu próprio espelho. E vivo de achados e perdidos. É o que me salva. Estou metida numa guerra invisÃvel entre perigos. Quem vence? Eu sempre perco.
Basta silenciar para só enxergar, abaixo de todas as realidades, a única irredutÃvel, a da existência.
Eu sei criar silêncio. É assim: ligo o rádio bem alto então de súbito desligo. E assim capto o silêncio. Silêncio estelar. O silêncio da lua muda. Pára tudo: criei o silêncio. (...) O silên...
Não se deve viver em luxo. No luxo a gente se torna um objecto que por sua vez tem objectos. Só se vê a «coisa» quando se leva uma vida monástica ou pelo menos sóbria. O espÃrito pode viver a ...
Eu que dei para mentir. E com isso estou dizendo uma verdade. Mas mentir já não era sem tempo. Engano a quem devo enganar, e, como sei que estou enganando, digo por dentro verdades duras.
Sua existência foi tão completa e tão ligada à verdade que provavelmente na hora de entregar-se e findar, teria pensado, se tivesse o hábito de pensar: eu nunca fui.
Para se ter uma visão, a coisa não precisava ser triste ou alegre ou se manifestar. Bastava existir, de preferência parada e silenciosa, para nela se sentir a marca.
Ainda não se cansara de existir e bastava-se tanto que às vezes, de grande felicidade, sentia a tristeza cobri-la como a sombra de um manto, deixando-a fresca e silenciosa como um entardecer. Ela na...
A liberdade que à s vezes sentia não vinha de reflexões nÃtidas, mas de um estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em pensamentos.
Há pessoas que têm vergonha de viver: são os tÃmidos, entre os quais me incluo. Desculpem, por exemplo, estar tomando lugar no espaço. Desculpem eu ser eu. «Quero ficar só!» grita a alma do tÃ...
Se eu esperar compreender para aceitar as coisas nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou ...
Nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado.
Não gosto de dar entrevistas: as perguntas me constrangem, custo a responder, e, ainda por cima, sei que o entrevistador vai deformar fatalmente minhas palavras.
Sinto necessidade de arriscar minha vida. Só assim vale a pena viver.
Quando penso no que já vivi me parece que fui deixando meus corpos pelos caminhos.
Viver me deixa tão nervosa, tão à beira de. Tomo calmantes só pelo facto de estar viva: o calmante me mata parcialmente e embota um pouco o aço demasiado agudo da minha lâmina de vida. Eu deixo ...